Actualmente, é comum as celebridades partilharem as suas experiências com doenças que nos anos anteriores eram demasiado "embaraçosas" para sequer reconhecerem. Imagine-se Rita Hayworth ou Katharine Hepburn, estrelas que estavam por perto quando Kegel publicou o seu trabalho pela primeira vez, a falar sobre ter perdas de urina no cenário. Impensável, certo? Felizmente, os tempos mudaram, e celebridades como Katy Perry, Helena Bonham Carter e Kate Winslet não têm medo de revelar as suas próprias lutas com a incontinência urinária. Segundo um estudo desenvolvido pela Unidade de Uroginecologia do Departamento de Obstetrícia, Ginecologia e Medicina da Reprodução do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte, a prevalência de perdas de urina em mulheres portuguesas é de 35,1%, das quais apenas 21% iniciou algum tipo de tratamento para combater o problema. Foi nos anos 40 que o ginecologista americano Arnold H. Kegel notou que um grande número das suas pacientes estava a sofrer perdas de urina como resultado do enfraquecimento do pavimento pélvico após a gravidez e o parto. Este pioneiro concebeu então os exercícios que levam o seu nome, demonstrando que o fortalecimento dos músculos pélvicos tem mais benefícios do que o esperado.
O pavimento pélvico é constituído por um conjunto de músculos que trabalham como um “chão” que suporta o útero, a bexiga, o intestino delgado e o recto. Kegel verificou no seu estudo que, da mesma forma que se enfraquece, é também uma das partes mais versáteis da anatomia, com grande capacidade de recuperar a sua força. Houve um outro efeito secundário surpreendente que ele notou após a sua investigação, aquelas pacientes que realizaram os exercícios de maneira correcta e assídua tiveram orgasmos mais frequentes e intensos.
O que são os exercícios de Kegel?
Há muitos factores que podem enfraquecer os músculos pélvicos, gravidez, parto, cirurgia, envelhecimento, excesso de peso, e alguns problemas de saúde tais como obstipação ou tosse crónica. E sim, os homens também têm musculatura pélvica e também podem sofrer do seu enfraquecimento e beneficiar de exercícios para a fortalecer. Trata-se basicamente de contrair e relaxar os músculos, e a única dificuldade é localizá-los. Muitas pessoas apertam o abdómen ou as ancas, ou empurram em vez de contraírem, o que pode piorar a situação.
Problemas e sintomas do pavimento pélvico enfraquecido
- Incontinência urinária de esforço - ou seja, se se derramar algumas gotas de urina ao rir, espirrar, ou tossir.
- Sensação de peso, inchaço, ou dor na vagina que se agrava no final do dia
- Incontinência fecal ou obstipação
- Sensação de que algo sobressai da vagina (tenha cuidado, pode ser um prolapso - isto é, quando a sua bexiga sobressai pela vagina).
Guia para começar a fazer os seus exercícios de Kegel
- Localizar os músculos certos.
- Se for difícil para si, sente-se na sanita e quando estiver a urinar pare a micção; esses são os músculos pélvicos. Use esta técnica apenas para os encontrar, exercitar-se enquanto urina não é saudável e aumenta o risco de infecção do tracto urinário.
- Aperte e eleve os músculos.
- Mantenha a contracção durante alguns segundos tentando não apertar os músculos do seu abdómen ou as nádegas.
- Liberte a contracção e relaxe os músculos.
- Repita. Recomenda-se a realização de três séries de 10 a 15 repetições por dia.
Benefícios dos exercícios de Kegel
Após algumas semanas, começará a notar os benefícios:
- Previne e melhora as perdas de urina em mulheres e homens.
- Previne prolapsos.
- Ajuda à recuperação após o parto ou cirurgia que afecte os órgãos genitais.
- Melhora os orgasmos ao aumentar a sua duração e intensidade.
- No caso dos homens, é eficaz contra a ejaculação precoce e ajuda a conseguir erecções mais fortes e duradouras.
Lembre-se que os exercícios de Kegel não têm qualquer contra-indicação e podem ser realizados durante a gravidez. No caso das mulheres, as bolas chinesas ou vaginais de diferentes pesos podem ser de grande ajuda para um treino correcto e eficaz dos músculos pélvicos. É melhor não negligenciar uma parte vital para a saúde física e sexual.